Do recife era preciso passar à terra firme. O ato oficial da posse do Brasil realizou-se na sexta-feira seguinte, que era o primeiro de maio. Em vez do habitual padrão arvorou-se uma cruz, ou melhor, uma cruz-padrão. Vítor Meireles e Pedro Peres fixaram em telas conhecidas esse ato augusto. Pedro Álvares mandara construir uma grande cruz, de madeira indígena. Escolhido o sítio, trouxeram-na em procissão. "Plantada a cruz, diz Caminha, com as armas e divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram um altar ao pé dela. Disse missa o Padre Fr. Henrique". Ao lado de Cabral assistiam Bartolomeu Dias, descobridor do Cabo da Boa-Esperança, Nicolau Coelho e outros heróis da Índia. Estavam também presentes uns cinquenta ou sessenta índios da terra. Quando eles viram os portugueses a carregar a cruz para o sítio onde se devia arvorar, chegaram-se e ajudaram-na a trazer. Foi o seu primeiro ato de cooperação. Não foi o último, naquela jornada célebre. Durante a missa, quando se erguiam os portugueses, erguiam-se os índios, e se ajoelhavam, ajoelhavam também. "E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram todos assim, como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados, que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção."
Tem a data deste dia a carta que Pedro Vaz de Caminha enviou a D. Manuel, o Venturoso. Antes de a terminar, expõe a sua opinião: "Segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente não lhe falece outra cousa, para ser toda cristã, do que entenderem-nos; porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm." E, dando notícias e esperanças do que a terra poderia ser, acrescenta: "Contudo o