Páginas de história do Brasil

a notar pormenores que, por serem da sua alçada, os ignoravam os outros relatores ou conheceriam mal. Depoimento, portanto, de valor — e mais ainda para o estudo da vida econômica do Brasil.

Logo desde o começo vai dando o provedor notícias desta natureza. Os holandeses cuidavam render a cidade pela fome. Para escusar temores, elucida ele que havia na cidade dez mil alqueires de farinha, 60 pipas de vinagre, 200 barris de azeite, 30 quartas de farinha do reino, 400 alqueires de sal.

De vez em quando fala de iniciativas urgentes. A 27 de abril montou-se uma fábrica de vinho de mel "que ajuda muito a sustentar". A 20 de maio já se tinham feito 80 pipas.

Narra também pequeninos fatos que são a trama daqueles dias heroicos. Os entrincheiramentos, o castigo dos espiões, as constantes "brigas" com o inimigo, os rebates verdadeiros ou falsos com que procurava intimidar os baianos: "de noite tocaram cinco vezes arma os holandeses" (4 de maio); depois do dia 19 de maio eram os nossos que tocavam arma: "hoje tocamos arma três vezes" (dia 21).

Aqui e além, com frequência, surge a nota da valentia: "A gentecita mui animada: mandou-se a Souto que fôsse tomar um flamengo para tomar prática: trouxe nove e matou cinco" (1 de maio). Novas façanhas de um Rabelinho, dum Lourenço de Brito Correia, doutros mais...

Como em todas as guerras há também, infelizmente, o inevitável, a morte deste ou daquele, a do alferes Gonçalo do Vale (29 de Abril), a de Mitarte, Roxas e a mais dolorosa de todas, a de Sebastião do Souto, "passado de parte a parte pela barriga". O dia 12 de maio tem uns laivos de tragédia; "Hoje veio a nós um trombeta com um menino e uma negrinha, que nos cativaram, havendo-lhes morto sua mãe e avós com tirania e crueldade, a que

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