Machado de Assis - Estudo crítico e biográfico

a verdadeira figura do criador, não o reabilitarão os seus livros?

Violentar a alma de Machado de Assis através das confissões involuntárias de sua obra é defendê-lo contra si próprio, contra o seu convencionalismo de superfície.

Quando comecei a reunir dados para este estudo — velha aspiração, fruto de uma longa convivência com a minha mais antiga admiração literária — não faltou quem me desanimasse. Um estudo crítico, sim, valia a pena, diziam-me; mas uma biografia!... Em Machado, só o escritor tinha interesse, o homem era de uma sensaboria completa.

Mas essa separação estanque é lá possível?

Quanto a mim, creio ser impossível estudar a obra de Machado sem estudar-lhe a vida, sem procurar entender-lhe o caráter.

Nele, o homem e o artista estão estreitamente ligados.

Sem dúvida, a existência do nosso grande romancista não foi das mais movimentadas, nem das mais ricas em situações dramáticas. Mas, ainda assim, não foi tão banal como o pretendem aqueles que, conhecendo o Machado estabilizado do fim da vida, esquecem-se facilmente do sentido vertical que ele lhe imprimiu no início.

Uma cousa são, porém, os acontecimentos, e outra o homem. Os fatos observáveis, palpáveis, ostensivos, podem ter pequena repercussão no íntimo,

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