e tomaram nota das suas ações, tem toda a razão o anônimo autor desse perfil. A não serem talvez os amigos da mocidade, Henrique Cesar Muzzio, Sizenando Nabuco, Quintino Bocaiuva e, mais tarde, sua mulher e Mário de Alencar, ninguém pôde gabar-se de ter conhecido Machado.
Sua biografia há de ser sobretudo uma interpretação. Interpretação de Machado de Assis devia ser o título deste livro. Como os homens da caverna de Platão, só vemos os fatos de sua vida nas sombras projetadas por eles sobre a sua obra. Conhecemos a reação melhor do que a ação. Reação sem dúvida exagerada por um temperamento doentio, por uma sensibilidade de artista.
A reserva, fruto da inclinação natural, mas também de dolorosos dramas íntimos, como que obrigou Machado a criar uma armadura, uma casca de caramujo dentro da qual se pudesse abrigar.
Tendo de lutar contra a inferioridade da educação, de sopitar impulsos de nevropata, de desmentir o proverbial espevitamento do mestiço, querendo impor-se aos brancos, aos bem nascidos, Machado de Assis, num movimento instintivo de defesa, tratou de se esconder dentro de um tipo, não era bem o seu, mas que representava o seu ideal: o do homem frio, indiferente, impassível. Meteu-se na pele dessa personagem, crendo sem dúvida que se elevava, na realidade amesquinhando-se, esquecido de que seus livros o traíam — ou o salvavam.