entretanto tornou a casar, levada pela obrigação imperiosa de viver, foi uma daquelas figuras femininas através das quais Machado se explicou e se justificou, não haveria nisso mais do que um impulso inconsciente. Mas que o levou para a vida.
Nas linhas com que, encarnado no Conselheiro Aires, conta a sua solidão, há um certo desprendimento dela; ela o envolvia, mas já não o dominava: "Eu tenho a mulher embaixo do chão e nenhum dos meus filhos saiu do berço do Nada. Estou só, totalmente só. Os rumores de fora, carros, bestas, gentes, campainhas e assobios, nada disto vive para mim. Quando muito o meu relógio de parede, batendo as horas, parece falar alguma cousa — mas fala tardo, pouco e fúnebre. Eu mesmo, relendo estas últimas linhas, pareço-me um coveiro."
Há aqui um tom de quase indiferença que faz pensar numa reação, na possibilidade do isolamento ser superficial, mais material do que moral.
A vida, de que tanto maldissera, era forte e resistente dentro dele, seduzia-o mais uma vez. Pura criação do seu espírito, essa Fidélia, encarnação de sonhos mal formulados, de encanto que encontrava na mocidade, dos motivos que, a despeito de tudo, ia descobrindo para viver? Só teria existência subjetiva? Fundindo-se com Aires, Machado se teria penetrado da inclinação deste ao ponto de encontrar um lenitivo à solidão? Tudo é reticente nesse homem esquivo. Mas consta ter havido um modelo para a