Machado de Assis - Estudo crítico e biográfico

aceitá-la. O que me parece o mais provável. Ou então a mocinha existiu de fato — mas não foi amiga de Carolina. Nesse caso será a Fidélia do Memorial?

Conjecturas inverificáveis, todas essas. Só uma cousa é certo: uma figura feminina se confundiu, no espírito de Machado de Assis, com a da morta querida. E pôs no Memorial de Aires a claridade de uma esperança ao lado da melancolia das saudades.

Nesse livro de velho não há a "contração cadavérica" do Brás Cubas; há, ao contrário, a serenidade de quem se despede da vida com pena.

Grande enigmático esse Machado, verdadeiro saco de surpresas, como chamou a Artur de Oliveira.

Quando tudo o deve levar ao desânimo, ei-lo que começa a reflorescer em efêmeros e frágeis brotos de inverno. Não seria, certamente, a alegria, como não seria propriamente amor o sentimento que o embalou.

Talvez nem chegasse mesmo a ser um sentimento... Seria alguma cousa de vago, de informulado, aspiração inconsciente, sensação indefinida, eco talvez dos amores passados, restos de vida que perduravam a despeito de tudo.

Grande complexo, é o que ele era...

Perfumado pela lembrança de Carolina, sempre presente nele, o Memorial de Aires, poema do amor conjugal, da vida de família, do passado extinto, tem nas entrelinhas uma informulada esperança.

Machado de Assis - Estudo crítico e biográfico - Página 324 - Thumb Visualização
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