Machado de Assis - Estudo crítico e biográfico

Não se queixava, não se acovardava.

Apesar de ter confessado o seu medo do salto no desconhecido, recusou os socorros da religião, nessa hora suprema.

— Não creio... Seria uma hipocrisia, respondeu quando lhe falaram em chamar um padre.(179) Nota do Autor

Pela última vez o seu espírito se recusava a se abandonar, a procurar amparo fora de si, a conhecer o repouso supremo.

E, abafando os gemidos, dominando as contrações da dor, composto e digno de alma como de corpo, foi entrando em agonia. Guardou, até perder o conhecimento, a preocupação de não incomodar, pedindo desculpas aos que o rodeavam se alguma vez não se continha inteiramente.

Que pensamentos o ocupariam nesses últimos momentos? Que imagens, que recordações lhe acudiriam à memória. Era o seu último colóquio com a vida que tanto interrogara — e que, afinal, muito lhe dera. Deve ter pensado nisso, deve ter sentido a diferença entre o pardinho que nascera havia quase 70 anos na casinha humilde do Livramento, e o escritor que morria cercado da consideração de todos; deve ter evocado Carolina, a quem se ia unir na morte; deve ter sentido que cumprira a sua missão de escritor, que não vivera em vão; e José Veríssimo ouve dele essas palavras de saudade e submissão:

Machado de Assis - Estudo crítico e biográfico - Página 334 - Thumb Visualização
Formato
Texto