A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca

boas mulheres, fanático pelas montarias como seu pai o fora pelas corridas de veleiros. Toda gente, que não conhece de perto o povo inglês, dizia que o príncipe jamais acederia em ocupar o trono, e que, se as circunstâncias a tal o coagissem, daria um espetáculo lastimável, reproduzindo as loucuras de Henrique VIII, ainda que sem os ímpetos sanguinários do antepassado. Morre Jorge V, o príncipe gozador e boêmio é chamado ao trono vago, ocupa-o suavemente, e logo se afaz aos encargos da realeza. Subitamente, por ocasião de uma parada militar, um indivíduo, criminoso ou vesânico, lhe aponta ao peito, quando perfilado em seu cavalo real, uma pistola, em gesto de atirar. O soberano, que tudo vê, não se desloca do ponto onde lhe cumpre ficar, não pestaneja, não se move. Também a Justiça inglesa não se descomede só porque se trate do soberano. A pena, que aplica ao autor do sensacional escândalo, não é a da tentativa de regicídio, é, apenas, uma velha e pequena pena cominada aos que perturbam a passagem do Rei na via pública. E o caso, que noutro país seguiria abalando o trono, o governo, a sociedade, sai imediatamente do cartaz da publicidade.

Dir-se-á que o episódio romântico do Rei, com a consequente abdicação, contraria a tese que esposamos neste capítulo. Mas é preciso notar que o escândalo produzido em torno dos amores da senhora Simpson foi mais universal que inglês. As multidões que desfilaram nas ruas de Londres levavam cartazes pedindo ao Rei que ficasse e não que abrisse mão de seu amor de homem ou desertasse ao trono. Nem houve conflito entre Jorge V e o Gabinete, entre o soberano e o Parlamento. Ele próprio o diz na sua proclamação de despedida ao povo de todo o Império, quando se declara

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