A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca

incapaz de dissentir de ambos, dado o seu religioso respeito pela Constituição. Mas o motivo exato da renúncia ou abdicação está precisamente na convicção em que se acha de não mais poder ser o soberano eficiente de que a Inglaterra necessita. "Deveis acreditar-me", escreve ele, "quando declaro que considerei impossível continuar a minha pesada responsabilidade e a cumprir, como queria, os meus deveres de rei, sem o auxílio e o amparo da mulher que amo''. E tudo, na Inglaterra e seus domínios, retoma o ritmo da vida normal. O povo inglês é essencialmente prático. O soberano não deixa de ser homem porque os acontecimentos o levam a empunhar um cetro. Nem é possível negar-lhe, porque é rei, a liberdade que o operário do Lancanshire ou o mineiro de Galles defende com encarniçamento. Assim não se rompe o equilíbrio dos poderes nem a ordem pública.

Mas, há um fato ainda mais expressivo e impressionante.

O mundo desperta certo dia com a mais sensacional das notícias que os fios telegráficos e as ondas hertzianas transmitem. Tem-se a impressão de um novo diesirae. Jeovah irá castigar certamente a humanidade, sacudindo as suas frágeis construções pelo alicerce mais profundo. A frota inglesa está rebelada! Então serão invertidos os polos, entrarão em dança alucinada as constelações, apagar-se-ão as estrelas no céu e a terra será alumiada apenas pelas tochas flamívomas das crateras vulcânicas. É, no mundo político e social, a maior das subversões. Não se trata, porém, de um movimento político. A frota britânica, rainha dos oceanos, não se alista entre os extremistas nem vem sacrificar a honra, a paz, o prestígio da nação cuja bandeira se desfralda sobre

A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca - Página 26 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra