A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca

os seus navios. Todo o movimento pode caber, ainda quando isto pareça um contrassenso, no sistema de eficiência. Houve um corte nas etapas do pessoal. Com esta redução é impossível aos marinheiros partir tranquilos para as evoluções, porque seus lares ficam em penúria. Com o pensamento nessa aflitiva situação eles não podem dar a seus comandos, e, portanto, à nação a que servem, o rendimento de trabalho e o desprendimento, o altruísmo indispensáveis ao exercício de sua profissão. Não disparam, porém, um tiro. Não desrespeitam um oficial.

Não fazem o menor alarido. Apenas se conservam imóveis. Há ordens para aviventar as fornalhas, e elas se conservam como estão. Mandam-se pôr em atividade as máquinas e as máquinas permanecem imóveis. Soam os toques de romper as amarras, e as amarras continuam seguras aos argolões das docas ou das boias de amarração. Tudo, entretanto, se opera em calma, dentro de um religioso respeito a autoridade. De extraordinário somente a inação em vez da ação. Quando levam aos superiores os motivos desta resistência pacífica erguem vivas à Inglaterra e ao Rei. Estes motivos são singelos: - não podem ser eficientes, cumprir meticulosamente os seus deveres, descontados nos seus salários, nos seus soldos. O Governo britânico encara serenamente também aquilo que para o mundo representa um cataclisma. Não declara fora da lei seus marinheiros. Chama-os à ordem suavemente. Interpreta o movimento como uma forma nova do uso do direito, que a Constituição considera sagrado, de petição e representação. Eles ficaram parados para representar. A Constituição inglesa, mais sábia que todas as outras, não é escrita. Tem, assim, mais elasticidade, e oferece campo sempre aberto às interpretações que beneficiem o povo inglês. Não se trata, pois, de uma insubordinação, mas de uma representação. Na

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