A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca

resguardando, contra todas as cobiças, o maior império colonial da terra. "Um pensamento profundo e claramente concebido sai efetivamente do quadro normal da vida inglesa". "Ora, os ingleses vivem como os animais, guiados pela espontaneidade do inconsciente..." (Keyserling). Este juízo do grande filósofo contemporâneo não impede que ele próprio conclua: - "O senso comum tem sua fonte na sabedoria suprema. Assim, a Inglaterra, o país do positivismo terreno da mais alta apreciação da riqueza, do senso comum inimigo das questões problemáticas, é, ao mesmo tempo, o país da espiritualidade europeia a mais sublime"(2) Nota do Autor. Assim, o tal senso comum britânico, menosprezado pelos espíritos revolucionários que não toleram ligações com o passado, como se fosse possível ao homem destruí-lo, é uma espécie do laisser faire, laisser passer, dos franceses, fórmula da qual se atribui ao sr. Getulio Vargas uma nova expressão, definida no "deixar como está para ver como fica", que a malícia popular certamente inventou, mas que não deixa de envolver de certo modo a necessidade de não submeter as soluções de interesse coletivo e humano às fantasias e precipitações dos que consideram vício capital o senso comum.

O sul-americano tem uma concepção diferente da vida política e social. Não nos agrada nem satisfaz o meio termo. Corremos atrás da perfeição, e como a perfeição é inatingível, estamos sempre a correr, fatigados e sôfregos, para diante, e permanecemos insatisfeitos seja qual for a solução. Eugéne de Monglave já aludia, vai por mais de cem anos, ao fato de, nas Américas, ser tão fácil construir uma situação política quanto destruí-la(3) Nota do Autor.

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