A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca

este exerce em Recife as funções de visitador. De todos os encargos e comissões Frei Caneca se desempenha de maneira magistral.

Não cabem, porém, neste volume, destinado a gizar as grandes linhas desta máscula personalidade, as investigações e pormenores de ordem cronológica e propriamente biográfica. O que interessa aos brasileiros é a varonilidade de suas altitudes, na fase histórica que temos diante dos olhos, o sadio patriotismo que o conduz nesta jornada de reivindicações liberais. De fato, nenhum de seus companheiros de 1817, notadamente Antonio Carlos e Muniz Tavares, se lhe avantaja em inteligência, cultura, intrepidez, e todos chegam a posições eminentes na política do Império. O próprio Manoel Paes de Andrada, o chefe da Confederação do Equador, volta a desfrutar largo prestígio como senador. Ele prefere, malgrado os acenos da política oficial, enveredar pelo caminho das revoluções, porque entende que a nação tem direito ao sacrifício de seus filhos, quando em causa a sua segurança e liberdade. Frei Caneca é um caráter indócil, mais talhado para a rebeldia e a insubmissão que para a genuflexão e os silêncios, meditativos do claustro. Acumula-se nele a carga de nervosismo e exaltação nacionalista de quantos, desde a guerra holandesa e as refregas de tabocas e guararapes, haviam lutado e padecido pelo Brasil. Não se encontra, nesse período rumoroso da nossa história, liberal mais convencido, batalhador mais intrépido, companheiro mais animoso, sectário mais militante, do que ele, a serviço do ideal que os povos continuam a perseguir apesar de corrido mais de um século. Há, neste frade, como que uma predestinação para a ação renovadora e para o sacrifício. Filho, como vimos, de pais obscuros, conserva no sangue as energias desordenadas da raça em formação, e reflete no espírito, sôfrego

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