e irrequieto, a natureza americana, "o sol perpendicular" do Brasil, a que alude um dos Manifestos de Paes de Andrade, manifestos que se carregam à sua conta na comissão militar, e que no entanto o padre Henrique de Rezende declara ao Barão Homem de Mello haverem sido de sua autoria.
Seguindo os passos, e revendo a obra do pregador e do político, chega-se a conclusão de que nele existe uma individualidade talhada para o comando, tipo acabado de reformador, a quem parece que o pai ensinara, como primeiras palavras, aquelas que se afirma Danton ensinou a seu filho Antonio: - "Viver em liberdade ou morrer". Esquece, porém, a verdade que Herman Wendel resume nesta sentença: - "Nenhum indivíduo, por mais poderosa que seja sua vontade, cria os acontecimentos", o que parece contrariar a frase célebre de Guilherme II quando disse que "são os homens que fazem a história". O mesmo Danton, Marat, Robespierre, Guilherme II, não foram os autômatos da força incoercível dos acontecimentos de que se acreditavam os criadores? Frei Caneca ama instintivamente a liberdade. Tem a obsessão da independência da sua pátria. É um extremado na defesa de seus pontos de vista constitucionais. Tem algo de messiânico, disposto sempre a fecundar suas ideias com o próprio sangue para que elas possam chegar a dominar o mundo. Seus próprios sermões conhecidos, porque da maioria deles não resta memória, pulsam aos estos deste amor vertiginoso pela liberdade e pela democracia. Seus escritos, seus artigos de jornal, suas epístolas políticas, seus catecismos de cidadania, seus versos, põem em equação os direitos do povo e traçam limitações ao chamado direito dos reis, que ele reduz a uma simples emanação da soberania das nações. Nega-lhes, por isso, a natureza divina, e só respeita os reis como supremos