A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca

final e morrerem como heróis nas trincheiras da liberdade. "Quando a pátria está em perigo, escreve ele em cinco de agosto de 1824, todo cidadão é soldado, todos se devem adestrar nas armas para rebater o inimigo agressor. Não é bastante que vmcs., na ocasião do aperto maior, saiam de suas casas com algumas pistolas ou facas, ou outras quaisquer armas, sem disciplina, sem ordem e sem chefe hábil nos negócios da guerra; um tal estado só pode causar a confusão e a desordem. O tempo é de atropelo, devem vmcs. atropelar também a economia de suas ações".

Na obediência à força incoercível de seu destino lembra um velho lobo do mar plantado imperturbável junto à cana do leme de seu barco, a proa fixa num ponto do horizonte negro e sem estrelas, alheio aos vagalhões que de todos os cantos lhe varrem as tábuas do convés, ameaçando-o de soçobro. Corrido mais de um século da tragédia de sua história, Frei Joaquim do Amor Divino Rabello, e Caneca, se me afigura um desses audazes condottieri modernos, armado de ponto em branco a caminhar para diante, entre os vanguardeiros da liberdade e da democracia no Brasil.

Os grandes homens, segundo Otavio Amadeo, "desaparecem como as grandes cidades, debaixo de profundas camadas de esquecimento, e o escavador de antiguidades e de exemplos só encontra restos miseráveis que apenas permitem suspeitar quão grande foi o que assoma entre as ruínas". De 1823 até a data que passa o tempo devorou um século e treze anos, um nada para sua imensidade, uma imensidade para nosso nada. E, todavia, Frei Caneca é, para a nova geração de brasileiros, como uma dessas cidades sepultas de que fala o enaltecedor de Adolfo Alsina. Conservado, embora, seu nome na galeria das pessoas ilustres do Brasil, que foram luzeiro

A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca - Página 43 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra