trono, perdem para ele todos os direitos da amizade e sofrem a ação de seus revides implacáveis. É por vezes empolgante, por vezes brutal. Da sua ironia deliciosa dou como testemunho esta quadra magnífica, que ele atira ao "linguarudo Bartholomeo da Paraíba":
"Amigo Bartholomeo,
O mundo admirado está
Do pouco que se vos dá,
Do muito que se vos deu."
Nem sempre, todavia, assim é. O frade assume não raro o aspecto de um anjo rebelado e sepulto nas chamas do Averno, e que de lá ressurge, brandindo um latego de relâmpagos, atropelando e contundindo a quem quer que lhe cruze o caminho. O padre Muniz Tavares, o baiano Villela Tavares, o visconde de Cairu, o marquês de Barbacena, Miguel Calmon e tantos outros perdem para ele a respeitabilidade desde o momento em que proferem palavras de união e de reconciliação. Então desce a pormenores, entra, em revide, na vida privada do adversário, traz à luz do meio dia fatos vergonhosos ou pudendos. "Que uso deu este vadio à mesada, que o cunhado lhe mandou dar na Bahia no tempo de sua prisão? Faz vergonha dizê-lo". O vadio é Villela Tavares.
De Muniz Tavares inculca que se vendeu aos absolutistas para trair sua província natal: ele visa a prelacia de Recife e por ela concita à rendição os conterrâneos, quebrando as energias da resistência diante dos exércitos invasores. Expõe Caldeira Brandt Pontes em fuga nas ruas da Bahia, atrapalhado com a espada que se lhe mete entre as pernas, e faz um paralelo entre o marechal mineiro e Napoleão, ambos obrigados a andar de rastos, este para galgar as culminâncias dos Alpes com a sua artilharia,