A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca

arrebatar pelas ambições. Não se nega a beber do fel que seus compatriotas sorvem, no desengano dos reveses. É um fanático da liberdade, e sacrifica por ela a paz do espírito, os remansos da vida sacerdotal, uma carreira política que tudo auspicia a mais rica de recompensas, pela pujança de seu talento e pela desassombrada intrepidez de suas atitudes. Diz bem Alcides Bezerra que a nação lhe deve um monumento. E quando Pernambuco vai buscar num passado mais distante a figura do conquistador estrangeiro, colonizador de alto coturno, mas em qualquer hipótese conquistador, avassalador de terras e gentes do Brasil, para uma consagração, parece-me justo este tributo que aqui se rende à memória de Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, o incomparável panfletário pernambucano, que ombreia com Evaristo da Veiga no preparo da verdadeira independência nacional, ainda que atuando em momentos e meios diferentes, e dotado cada qual de um feitio mental diverso. Meditando sobre as resistências opostas ao absolutismo pelas províncias do Norte, e sobretudo sobre a Revolução de 1824, chega-se a conclusão de que sem elas o Sete de abril teria sido impossível. São elas como o lançaço fatal que fere o calcanhar do nosso Aquiles. Com a tenaz oposição que oferecem não só abalam o prestígio majestático de D. Pedro, como expõem à suspeita nacional os áulicos partidários do governo forte, que teria feito do jovem e bravo imperante um ditador a mais no continente americano, digno de figurar entre os que o Cons. Pereira da Silva biografou em seu livro - Os dictadores da America, a história e a legenda; ou de servir de motivo à critica de Cecil Jane em seu famoso estudo traduzido do inglês para o espanhol sob a epígrafe - Libertad y despotismo en la America Hispanica.

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