A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca

Pernambuco, deste jeito se refere ao filho do ilustre frade: - "Singular parricídio!" "Vingava-se da geração coeva aqueles tempestuosos tempos e sangrentas lutas, que a história consigna, sobre a presente geração que erigia à vítima política um monumento honroso na divulgação das próprias obras, testemunho vivaz da injustiça dos seus contemporâneos, e sobre as futuras, que nenhuma solidariedade podem ter em fatos preexistentes, e as quais, portanto, se não deve recusar o direito de conhecer e apreciar o passado".

Dentre os documentos que se lograram salvar do esquecimento ou da destruição, escritos por Frei Caneca, destacam-se três cartas de seu punho, dirigidas a três afilhadas, todas elas irmãs. Os termos carinhosos que ele usa nessas missivas, os conselhos que dá, as lições de coragem que ministra, prevendo a morte decretada pela comissão militar, dão o que pensar. Demais todas elas aparecem assinadas O mesmo. Porque não Frei Caneca ou Joaquim? Na primeira lê-se de entrada: - "Carlota. Minha cara afilhada". a seguir: - "Esta vida, minha filha, é um tormento para todos que nascem; todos padecem, uns mais, outros menos; uns agora, outros depois; ninguém está isento de padecer". E no fim, esta exuberante demonstração de afeto paternal: - "Eu não sei qual será a minha sorte, mas, seja qual for, eu e tu nos devemos conformar com a vontade divina... Tem paciência, portanto, e cuida muito em seres virtuosa, e deixa o mais por conta de Deus".

Na segunda é "Joaninha, minha afilhada do coração". Como na primeira, ele responde a bilhetes recebidos no cárcere. Sempre a mesma ternura: "Recebi o teu bilhetinho, que me deu muitos alívios às saudades que eu tinha de vocês todas. Eu sei quais têm sido as tuas aflições, e talvez que elas me ferissem mais do que a ti mesma".

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