A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca

Nesta carta há uma passagem muito expressiva quando escreve: - "Agora só tens por ti Deus e a tua madrinha. Ela agora é tua mãe, ela te faça todo benefício, pois bem sabes que tua Aiaiá nada pode fazer-te".

Quem será essa Aiaiá? É a progenitora das afilhadas. Segura da sua condenação, ele insiste: - "Ama a tua Aiaiá, obedece-lhe, sê-lhe humilde de coração, ama a teus irmãos, consola-os nas suas aflições; e é quanto deves fazer nesta vida".

Finalmente, a terceira é ainda mais transbordante desse insuperável afeto: - "Anninha, minha afilhada das minhas entranhas". Frei Caneca revela, aí, um fato que diz bem da sua intimidade com estas afilhadas. "Porque não me escreveste, como as outras? Porque nunca quiseste aprender. Eu bem te dizia, eu bem te chamava. Já vais sentindo as consequências de não saberes; ainda estás em tempo de te emendares, trata de te aplicares para o fim de saberes". A esta, que não lhe escreve porque não sabe escrever, ele diz conhecer as aflições que a torturam: "e quanto mais nisto penso, mais se me parte o coração; porque eu não sinto o meu estado por mim, porque já estou acostumado com trabalhos, e já tenho vivido bastante para não ter saudades do mundo. Todos os meus cuidados e aflições são por causa de vocês, por vê-las tão desamparadas de socorros humanos, bem que logo me consolo por lembrar-me que de Deus é donde vem todo o bem, e que por sua vontade é que os homens fazem benefícios aos outros". E logo a recomendação de amor e dedicação nos dias negros que vão chegar, para com a idolatrada Aiaiá: - "Ele te queira socorrer com a sua misericórdia; ele te dê virtude no coração, para lhe fazeres bons serviços; para amares e obedeceres a tua Aiaiá; para amares a teus irmãos e teres paciência com os trabalhos da vida".

A gloriosa sotaina do Primeiro Império - Biografia de Frei Caneca - Página 51 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra