O padroado e a Igreja brasileira

para os acatólicos, que sendo minoria nas escolas, hão de sempre viver num ambiente intolerável de pressão moral exercida pela maioria que acorre às aulas de religião.

O legislador de 1891 foi mais liberal e mais arguto estabelecendo o laicismo didático, que, apesar dos seus detratores nem sempre razoáveis, frutificou tranquilamente na messe dos novos obreiros da nossa civilização, nos quais se contam grandes nomes que, mesmo educados fora e acima de princípios religiosos, têm feito para a Igreja muito mais do que os homens do Império, geralmente imbuídos daquele ferrenho regalismo que tanto prejudicou o catolicismo no Brasil.

Não estamos ainda, certamente, no regime do privilégio escrito, mas a sofreguidão da politicagem inconsciente já vai criando, para efeitos eleitorais, o privilégio de fato, dentro do Estado, da religião que é a da maioria, sem dúvida, mas que por isso mesmo prescinde do amparo que só pode diminuí-la, rebaixando-a, como no Império, a prisioneira de apetites e de ódios contrários à sua alta missão social.

É a História que o afirma. O regime de comunhão de poderes, que Magalhães de Azeredo denominou com justeza o "cárcere de ouro da Igreja", foi sempre, e em todos os países, a origem das discórdias e das guerras.

E essa comunhão foi consentida e solicitada pela própria Igreja no tempo em que o seu prestígio vacilante pedia ao braço temporal o apoio das armas para a defesa do seu direito. O poder temporal serviu-a nesses transes, mas exigiu o seu duro quinhão de recompensa,

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