Não se sabe se o episcopado, ao aceitar a aliança com o positivismo, não acreditasse na efetuação do postulado separatista; ou se a aceitara movido apenas por espírito de cega vindita e depois se arrependera ao presenciar o inesperado; — o que é certo é que a sua pastoral, redigida pelo próprio D. Macedo Costa, é um enigma de interpretação que desafia a inteligência da História. A pastoral, na sua atordoante e confusa dialética, não faz mais do que reprovar inteiramente, fundamentalmente — o decreto de 7 de janeiro, que seria completado pela Constituição!
Parece incrível que a Igreja, acabando de sair rudemente golpeada e diminuída de um regime que só lhe proporcionara escravidão e vexame, se batesse contra um dispositivo que lhe assegurava absoluta liberdade de movimentos, origem fecunda e tranquila da expansão que hoje admiramos.
É um documento incompreensível, essa pastoral. Contraditório e dubitativo, cheio de restrições e desconfianças que contrastam com a inteligência retilínea desse admirável argumentador que era D. Macedo Costa. Avança e recua com a desorientação de uma bússola no polo. Afirma e contesta. Aceita aqui o princípio da separação para logo fulminá-lo com aquela trovejante bravura que punha em todos os seus escritos da questão religiosa.
É melhor que o leiamos. Começa por uma oração apocalítica e terrível, que ainda hoje retumba nas páginas da história imperial do Brasil:
"Acabamos de assistir a um espetáculo que assombrou o universo; a um desses acontecimentos, pelos quais dá o Altíssimo, quando lhe apraz, lições tremendas aos povos e aos reis: um trono afundado de repente no abismo que princípios dissolventes, medrados à sua