O padroado e a Igreja brasileira

sombra, em poucos anos lhe cavaram! Desapareceu o trono! E o altar? O altar está em pé, amparado pela fé do povo e pelo poder de Deus"...

Depois, entrando no exame das atribuições da Igreja e do Estado, tem estes admiráveis conceitos sobre a relação de ambos no governo da sociedade, conceitos que confirmam a sua fama de ilustração e inteligência invulgares:

"O Estado tem por alvo um fim meramente natural, que se realiza e completa aqui na terra, e ele atinge tal fim quando, promovendo a ordem, a paz, a prosperidade pública, consegue encaminhar os seus súditos à posse da felicidade temporal.

A Igreja tem um alvo incomparavelmente mais levantado. Ela olha para um objetivo superior, posto além dos limites do tempo, e que, por isso mesmo que transcende as forças da natureza humana, se chama sobrenatural: este objetivo é a felicidade eterna, cujo gozo não se pode alcançar senão mediante intervenção e auxílio da graça divina, cooperando com ela o livre alvedrio do homem.

Se a Igreja ainda não cessa de reclamar dos poderes do século o reconhecimento de sua plena autonomia e a sua liberdade de ação no regime das almas — direitos que lhe não podem ser recusados sem a mais flagrante injustiça - ela não cessa ao mesmo tempo de acentuar a distinção dos dois poderes e de proclamar a independência da sociedade civil na órbita de suas atribuições temporais.

Com efeito, é ela que, mandando dar a Deus o que é de Deus, insiste com toda a força de sua autoridade para que se não negue a Cesar o que é de Cesar. Ela inculca a toda alma que esteja submissa aos poderes superiores, porque não há poder que não venha de Deus;

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