Francisco da Silva Castro, Oswaldo Cruz, Carlos Chagas e Roquette-Pinto.
O purupuru consiste no aparecimento de manchas a princípio acinzentadas depois cinzento-azuladas e enegrecidas, a coloração desaparecendo progressivamente nas lesões antigas a partir do centro de onde pouco a pouco começam a se desenvolver placas acrômicas comparáveis às de vitiligo e características da fase final da doença. São as partes descobertas as mais frequentemente atacadas, a acromia intensa se observando de preferência nas extremidades dos membros. A descamação nas placas discrômicas, que nem todos os observadores referem, parece caracterizar as primeiras fases da doença.
Sobre a etiologia do purupuru nada se sabe até hoje, embora seja crença de muitos médicos e naturalistas que têm estado em contato com índios dele afetados que se trata de uma dermatose parasitária, de uma dermatomicose. Já Wappaeus identifica o purupuru com a pinta mexicana, orientação que os autores modernos, Roquette-Pinto entre outros, também têm seguido. Com essa identificação, aliás, fica apenas deslocado o problema, pois, como vimos, da pinta ou caraté nem se sabe se chega a ser entidade mórbida autônoma.
Sob a denominação de báanêcêdútú, Roquette-Pinto descreveu detalhadamente em seu livro sobre a Rondônia uma dermatose particular observada entre os índios Nhambiquaras, da Serra do Norte, no Estado de Mato Grosso. A moléstia se inicia pelo aparecimento de vesículas muito pequenas dispostas em figuras circulares concêntricas formando placas de contorno ovoide ou policiclo. Entre as lesões elementares a pele é a princípio de aparência normal, em torno delas também não se verificando qualquer reação inflamatória. As vesículas crescem um pouco, secam, nessa fase da doença coalescendo mais ou menos as lesões elementares, do que resulta a formação de placas escamosas em que a disposição em figuras circulares concêntricas está mais atenuada e menos regular. As placas crescem, se multiplicam, o processo de descamação se intensifica e chega-se à fase final da doença, ao que parece poucas vezes atingida, na qual toda a superfície do corpo é recoberta de escamas, arrepiadas, como tiras de papel de seda escura presas ao tegumento por uma extremidade. A marcha da doença dá-lhe sucessiva ou simultaneamente os três aspectos sob os quais Roquette-Pinto a descreveu: forma vesiculosa, forma placoide, forma escamosa. Pensa Roquette-Pinto que o báanêcêdútú seja uma dermatose parasitária, provavelmente uma dermatomicose, e considera possível que o parasito se encontre no solo, donde a facilidade de infecção dos Nhambiquaras