que são dos poucos índios brasileiros que têm por hábito dormir no solo nu. É também com o tokelau ou tinha imbricada que Roquette-Pinto considera que o báanêcêdútú tem suas maiores afinidades, sobretudo na fase final de sua evolução. É muito provável que a etiologia das duas doenças seja também semelhante e que um estudo parasitológico da dermatose dos índios da Serra do Norte venha a colocá-la um dia entre as endodermofíceas, ao lado ou, o que parece menos provável, identificada ao chimberê, dermatose dos índios do rio São Miguel que passamos a descrever.
Em 1924, tivemos oportunidade de estudar, graças à amabilidade do Professor Roquette-Pinto e do Dr. Benjamin Rondon, uma dermatose endêmica entre os índios Puruborá do rio São Miguel, Estado de Mato Grosso, na fronteira do Brasil com a Bolívia. O grupamento a que pertenciam os doentes em questão constituía um pequeno núcleo de cerca de 50 indivíduos isolados em um dos mais remotos pontos da América do Sul onde tinham permanecido até dois anos antes sem ter qualquer contato com a civilização. A doença era aí familiar, atacando diversos membros de cada família, as crianças sendo desde cedo infectadas. O índice endêmico é elevado, a totalidade dos membros da tribo sendo atacada do mal, que em todos reveste aspecto clínico idêntico. Entre os índios em que é observada, a dermatose é conhecida pelo nome de chimberê.
As lesões do chimberê consistem em grandes placas circinadas, confluentes, fortemente escamosas, pruriginosas, acompanhadas de acromia acentuada. As escamas são translúcidas ou esbranquiçadas, a descamação se estendendo por toda a superfície das placas, mais intensa mesmo na parte central que na periferia. Os fragmentos exfoliados de epiderme são facilmente retirados a pinça, medindo então de fração de milímetro a meio centímetro de tamanho. Raros são os pontos da lesão em que se encontram pequenas crostas provocadas pela ação das unhas do doente. As lesões podem invadir toda a face, a nuca, o pescoço, o peito, a parede abdominal, o dorso, os membros. Não observamos lesões do couro cabeludo, dos pelos, nem das unhas. A não ser a acromia por vezes acentuadíssima, nenhuma outra coloração anormal é observada na pele ou nas escamas.
O exame microscópico das escamas, feito após ligeiro aquecimento na potassa a 40%, revela a presença, em quantidade variável, de um micélio típico. Em algumas escamas é difícil encontrar o cogumelo, outras, porém, são intensamente invadidas pelo parasito que forma um denso emaranhado de hifas septadas e ramificadas sem qualquer vestígio de esporos ou esporóforos diferenciados. Em alguns