os rapazes faziam exame de retórica e de muito longe ouviam falar da história natural. Ruy Barbosa quase escandalizava traduzindo as Lições de Calkins em que há boas noções de zoologia elementar. Pura formação coimbrã, literária e clássica. Medeiros, porém, era dono de um instrumento cerebral de agilidade incomparável, conforme a feliz definição de Agrippino Grieco. Fórmulas vazias o enfastiavam. Para ele o melhor estilo é o que tem mais pensamento no menor número de palavras. A concisão e a clareza cartesiana do que escrevia deixam manifesto o pendor que o levaria a ser, de fato, um apaixonado estudioso da ciência.
Diletante? Sim porque a sua terra não lhe pôde oferecer ambiente mais propício. Se mais resignado e talvez mais calmo, evidentemente poderia ter feito, no terreno da pesquisa, tanto quanto outros. Houve, porém, dominante, um fator de inquietação que o levou ao jornalismo, no seu conceito — "a mais perfeita e a mais completa das belas arte... arte da vida moderna".
Houve também epicurismo intelectual, muito daquela deliciosa vadiação do espírito — encanto da existência e desespero dos pessimistas. Qual de nós dois, Senhor Miguel Osório, terá autoridade bastante para erguer a primeira pedra? A biblioteca de Medeiros, pela variedade dos assuntos, era uma livraria. Ao lado das grandes composições de todas as literaturas, tratados de biologia e sobretudo de psicologia experimental, livros de magia, de anedotas, de arte e de esoterismo, de religião e de eugenia. Medeiros vivia caçando curiosidades.
Certa vez, na sua casa hospitaleira tirou da gaveta uma caixa quadrangular, tendo numa das faces diversos mostradores sobrepostos. Algumas pequenas maçanetas giravam, cada qual comandando um dos mostradores. Era uma nova máquina de compor histórias