literárias, contos ou romances, que ele mandara vir dos Estados Unidos. Nos mostradores, de cima a baixo, apareciam pelo rodar das maçanetas, nomes, títulos profissionais, verbos indicando os acontecimentos da novela desejada, lugares em que as cenas poderiam se passar, crimes ou desastres para os personagens, intervenções da justiça ou da religião sugestões para arranjos e combinações de pessoas, ofícios, acontecimentos. Coisas da América do Norte. Medeiros conheceu a engenhoca no fim da vida quando toda a sua admirável obra na literatura, na ciência e no jornalismo estava realizada. Com a sua diabólica e sempre alerta curiosidade, talvez tivesse algum dia querido experimentar as virtudes da caixinha. O que nos legou, na herança opulenta, foi sugerido pela vida, que sabia analisar e reconstruir, olhos penetrantes e cérebro privilegiado.
Ainda a respeito da sua inclinação para a pequisa científica recordo-me de um episódio. Certo dia, ao terminar uma das nossas reuniões, pergunta-me ele porque não poderiam os homens aproveitar, na alimentação, a erva que nasce à toa... Discutimos as ponderosas razões que me levavam a responder pela negativa quanto às vantagens da ideia. Mas a instâncias suas, para que a experiência pudesses ser realizada mais facilmente pelo indivíduo escolhido para ensaiar o regime, obtive que um dos meus colegas do Museu reduzisse a pó algumas folhas. E o material foi entregue ao insaciável investigador. Logo depois adoecia e desistia do ensaio.
A ânsia incoercível de poder diretamente desvendar os segredos do mundo, o delírio de indagar, que vem através dos séculos condicionando o progresso, a fúria de saber era para mim, o traço definidor daquele grande espírito.