se compraz em fórmulas definidas, que seriam de esperar num pesquisador de tal envergadura. Chega a citar um trecho de Renan quando faz a apologia dos estados obscuros anteriores à reflexão, estados que o mais claro dos escritores de todos os tempos achava particularmente fecundos para a criação. Mas seja tratando de a Ciência e a Língua Portuguesa, de As Mulheres e a Ciência, de A Arte de Esquecer, do Problema da Dor, do Sonho e a Ação, ou escrevendo biografias e artigos históricos — Pasteur, Pedro II e o Instituto de Fisiologia, Ewald Miguel Pereira, Sophia Kovalewsky — contribuistes para a literatura nacional com muitas páginas definitivas.
Quero dizer ao romancista das Almas sem Abrigo: nunca foi mais amável escritor do que nos dois volumes de ensaios, o estilo jamais teve tanta louçania. Abrindo ao acaso: "Em arte, como em tudo, o passado não pode ser desprezado, nem afastado... Mas pode ser esquecido, envolvido nos véus nunca inteiramente opacos do sábio esquecimento, do esquecimento educado, que anula as exuberâncias nocivas mas não asfixia as sementes vivas e férteis. Estas renascem em formas novas e mais ricas, quando encontram as condições adequadas para o seu desenvolvimento, reunidas na alma nova das personalidades, raras mas sempre existentes, que sabem ver e sentir". Quanta sutileza nesta página! Que descoberta de extrema finura psicológica, o sábio e educado esquecimento que por desgraça não está ao alcance de todos!
Sois das almas novas que sabem ver e sentir, almas preciosas até para os povos de cultura profunda e sedimentada. Entre gente que se debate nos lances morais e práticos da própria formação definitiva, agitadas assim as moléculas quando se orientam para o poliedro nuclear dos corpos cristalinos, são pontos de apoio da sociedade. Da penetrante visão há de a ciência recolher