Ensaios brasilianos

João José Coutinho era presidente da Província. O elogio que faz da sua personalidade o severo Fritz Müller é um título de glória para o nome desse administrador, cujos serviços o naturalista aponta minuciosamente. Dirigia tudo com o amor e o interesse do chefe de uma grande família, provendo as necessidades materiais e culturais do seu povo, economizando-lhe a fortuna e os bens. E ainda achava tempo para ouvir, uma ou outra lição, no instituto de ensino que era um dos seus desvelos.

Nenhum mestre foi mais querido dos seus alunos do que Fritz Müller; não se apartava da natureza, e nada prende mais as jovens inteligências do que a própria vida. Em ciências naturais, quem não mostra — não ensina.

Quando se recorda a biografia de Fr. Müller, há uma circunstância que é preciso lembrar, porque ela explica, se não justifica, alguns fatos que lhe entristeceram o fim da vida. Assim, ele nunca permitiu que as suas filhas frequentassem a escola elementar da Capital da Província, instituto, na verdade, bem modesto.

Da Alemanha vinham todos os livros de que os pequenos precisavam. Para eles Fritz Müller compôs algumas ingênuas poesias: o vagalume, a paca, as formigas, etc. Na esperança de contribuir para o mais fácil ensino da aritmética, imaginou um sistema de figuras, formadas por pequenos cubos, reproduzidos na exaustiva obra de Alfred Möller.

Quatro anos depois da inauguração do Liceu a gangorra ministerial, que fazia o encanto dos mexericos politiqueiros dos nossos avós, desandou para os conservadores. Subiram os liberais e o grande governador João José Coutinho foi afastado do posto que tanto nobilitara.

Seu sucessor não agradou a Fritz Müller. Em 1861 dizia ele: "Com que boa vontade iria eu dependurar no

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