Pela sua originalidade e alcance filosófico, pela repercussão que teve, a obra de Fritz Müller é um dos maiores monumentos científicos criados na América do Sul.
Seu nome não é citado correntemente — como o de Martius e o de Saint-Hilaire ou o de Bates — por dois motivos. Fritz Müller espalhou os tesouros, recolhidos na livre natureza, — por inúmeras revistas científicas e publicações técnicas, nada populares; e, depois, a maior parte das suas observações pertence ao que há de mais especializado em matéria de biologia.
Só um pequeno livro publicou, opúsculo de algumas dezenas de páginas datado de "Desterro 7 de setembro de 1863" — é o Für Darwin, livrinho de fama universal.
Für Darwin, por quê?
O autor informa: depois de ter lido a Origem das espécies, pareceu-lhe que o melhor meio de apreciar a teoria de Darwin seria aplicá-la a um certo grupo animal e verificar se ela seria capaz de explicar, de modo aceitável, a descendência dos tipos.
A classe dos crustáceos foi a escolhida por diferentes motivos.
Mas, tentando distribuir as formas de modo a organizar uma provável árvore genealógica do grupo, Fritz Mülller cedo reconheceu que havia muitas falhas no que se sabia então quanto ao desenvolvimento embriogenético desses animais.
A primeira indicação decisiva encontrada em favor da teoria de Darwin foi, no dizer do autor, a descoberta da forma larval chamada Nauplius nos crustáceos superiores (malacóstracos). Porque, raciocina ele, se os crustáceos são derivados de uma só forma ancestral, todos devem ter passado pela mesma forma embrionária.