Ensaios brasilianos

Eles não poderão fazer as viagens necessárias senão aderindo ao corpo de qualquer visitante das bromélias.

Apesar de assim parecer abandonada ao acaso a sua transmigração, ela se faz com a mesma regularidade com que o pólen das flores é transportado de uma planta a outra pelos insetos pronubos, como prova o fato de quase não haver bromélia sem a sua colônia de Elpidium".

Transcrevi, muito de propósito, estas linhas de Fritz Müller. Elas revelam um mundo... Evocam as grandes transformações sofridas pela Terra, no vazio imenso das idades levam a gente ao seio da natureza fervilhante da vida oculta nos pequenos tanques, suspensos nos galhos da mataria. Suscitam o pensamento profundo que envolve a origem das coisas; são páginas que fazem pensar... E, no entanto, para isso, o mestre não quis outra eloquência, que não fosse a da singela narração do que encontrou na floresta.

Nem uma só imagem acessória ele pôs naquele relato, tão simples. O grande campeador da verdade não precisou de mais; soube ver e narrou o que viu.

Ainda hoje, aquela simplicidade comove; assim as forças da natureza agitam a alma dos homens sinceros.

Finalmente, em um tomo de 663 páginas, reuniu Alfred Möller as cartas de Fritz Müller. É um delicioso volume. Sem elas, a obra do naturalista ficaria, muitas vezes, incompleta. Porque ele, em muitas, pôs minúcias, apontamentos, que completaram algumas das suas memórias. As mais notáveis foram trocadas com Darwin, Weismann, Agassiz, Haeckel e Hermann Müller.

Toda a existência de Fritz Müller está documentada naquela correspondência. Ficamos sabendo também a história do rincão em que morava. Assim nos informamos de que, no ano de 1866, as jacutingas foram numerosíssimas; em Itajaí, mataram-se 50.000...;

Ensaios brasilianos  - Página 49 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra