Américo Vespúcio, companheiro de Colombo e, depois, piloto a serviço de Portugal, dirigiu a Renato II diversas cartas, narrando suas longas e ásperas travessias pela face dos mares desconhecidos, suas compridas noites de vigília embuçado no manto, de pé junto da amurada, olhando surgir do fundo do horizonte as constelações dum hemisfério ignorado, os sofrimentos da dura vida marítima, as borrascas horríveis que arrebatavam gajeiros das gáveas gradeadas e marujos dos chapitéus resvaladios, os sonos curtos e inquietos nas taboas úmidas das cobertas, após noites de perigosa refrega, o trato com povos ignotos e bárbaros...
Renato II mandou-as ler pelos seus cancelários. Escutando-as, pensou que era mais áspera do que a dos guerreiros como ele a vida dos navegantes audaciosos. Interessou-se pelo assunto. Recomendou as cartas aos sábios do seu Ginásio: que as examinassem e julgassem do seu valor, que lhe parecia grande.
Em Saint Dié ignoravam ainda os gloriosos feitos marítimos da gente ibérica. Admiraram as fortes narrações de Américo Vespúcio e, no prefácio da Geografia de Ptolomeu, que o Ginásio publicou logo, sob o título Cosmographiae introductio, assim se expressaram os sábios do importante estabelecimento:
"Há uma quarta parte do mundo, descoberta por Américo Vespúcio, que, por esta razão, se deve chamar América".