Na citada edição do Ptolomeu de Roma, de 1508, é muito curiosa a adulteração latina da toponímia da então pouco conhecida região brasílica, o que serve bem para mostrar a que metateses e deformações pode estar sujeito um nome geográfico que venha dos tempos antigos até nossos dias, ora pela grafia, ora pela aproximação ou similitude com outras denominações, embora de terras as mais afastadas, ora pelas modificações através da tradição oral.
Cananeia, por exemplo, figura ali como Cananor, porque havia Cananor, que se parecia com Cananeia, nas Índias Orientais, e era mais conhecido. A baía do Rio de Janeiro é o rivulus de oreferis, talvez confusão prosódica da terminação de januarius com aurus, dando a ideia de ouro, bastante para deslumbrar as mentes ambiciosas naquela época de aventuras. O cabo de Santo Agostinho é o cabo de Santa Cruz. A Baía de Todos os Santos transforma-se em Abatia ominium sanctorum ou Abadia de Todos os Santos. Outra confusão memorável!
Pois bem: nessa tábula do Ptolomeu de Roma está o rio de Brasil e nele Silvestre Rebelo vê uma prova de terem os portugueses das primeiras frotas, senão os da própria esquadra de Cabral, levado de retorno o pau-brasil.
Sabe-se que Pedr'Alvares trazia na Armada, como língua e conhecedor das cousas do Oriente, o judeu levantino-polônio, convertido por mera conveniência