salvou-os a todos da ruína completa. Este homem foi o guia Lopes.
Por mais paradoxal que isso pareça, no meio de tanta gente sabida, este matuto ignorante era o único que via na expedição, o único que sabia, o único que tinha a verdadeira ciência daquela terra. Sem ele, somente com o auxílio das bússolas e das cartas geográficas, a expedição não caminharia um só dia, não daria um só passo com rumo seguro. Houve uma certa fase da retirada, em que todo o corpo expedicionário ficou dependendo exclusivamente dele, da sua ciência, que não era a dos livros, mas a da observação e da experiência. Ele tinha o sentimento da realidade — e os outros, não. Os outros raciocinavam; ele intuía. Os outros sabiam pela razão; ele pela intuição. Por isso, ele sabia; os outros, não.
— "Nada sei, sou sertanejo; os senhores, que estudaram os livros, é que sabem" — costumava dizer humilde, mas certamente com ironia. Porque, no fundo, ele estava certo de que só ele conhecia aquela terra. E dizia com orgulho, zombando da ciência oficial: — "Desafio todos os engenheiros com as suas bússolas e plantas. Nos campos de Pedra de Cal e Margarida, sou rei. Só eu e os índios cadiveus conhecemos tudo isto".
Estrangeiros naquelas paragens, os oficiais ignoravam-nas totalmente — e isto abria ensanchas