tarde veio a desenvolver, para a criação da primeira companhia oficial de navegação a vapor entre as duas nações.
E, como nos será dado expor, Gallès chegou a ser representante do Brasil em Bordéus, como vice-cônsul nomeado pelo governo do Império, lugar de que foi demitido, entretanto, em penosas circustâncias. E é, então, que nascerá a mais renitente pendência entre ele e as autoridades diplomáticas brasileiras, a quem não dará sossego, por muitos anos, com insólitas pretensões.
Aliás, foi pista que nos deu carta escrita por Antônio Carlos Ribeiro de Andrada a Vasconcelos Drummond, em março de 1828, quando exilado em Bordéus, na qual fazia referência a um dos Balguerie, que ocupava, na época, o cargo de vice-cônsul do Brasil naquela cidade, (3)Nota do Autor que nos levou a Gallès no desempenho, anos mais tarde, da mesma função.
Longe estávamos de supor, no primeiro contato que tivemos com o autor de Du Brésil, que contraditória figura iria ele se revelar, pois se de um lado demonstrava constante preocupação com assuntos de que não cogitaria grande número de seus concidadãos, ainda que do mesmo ofício, por outro desgastava-se na perseguição de honrarias e posições com artes que não primavam pela seriedade.
Mas o Brasil, que Gallès viria, repetidamente, a chamar de sua segunda pátria, marcou-o para sempre. Por ele tomou interesse invulgar num estrangeiro, sobretudo na época em que viveu, cantando-lhe louvores, talvez exagerados, mas que mal certamente não lhe faziam. E seus escritos sobre nosso país, que se diluem pelo longo período de quarenta anos, se nem sempre primavam pela exatidão, continham, amiúde, observações, de surpreendente acuidade.
Contou este trabalho com o incentivo de meu amigo, Prof. João Cruz Costa, que, desde a publicação dos artigos que escrevi a respeito de Edouard Gallès e de seu livro sobre nosso país, me animava a prosseguir nas pesquisas sobre este personagem, o qual, realmente, só veio a tomar consistência, quando me foi possível identificá-lo, não há muito, como ex-vice-cônsul do Brasil em Bordéus, cargo a que seu ocupante, por motivos justificáveis, como veremos, jamais aludiu em seus escritos. Devo, aliás, ao Prof. Cruz Costa o levantamento que fez pessoalmente na Biblioteca Nacional de Paris de tudo quanto ali se achava catalogado, de autoria de Gallès, com a microfilmagem do que se afigurava mais significativo. Apesar de meu longo percurso por bibliotecas, sobretudo de São Paulo e do Rio de Janeiro, valiosa me foi também a