Um precursor do comércio francês no Brasil

de constituir, ainda, para os seus compatriotas, o extrato da tarifa aduaneira então vigente no Brasil, que ele teve o cuidado de oferecer em seu livro, com a indicação dos direitos de entrada em que incorriam os principais produtos que para cá poderiam ser exportados pela França.

E interessante é a observação insistente de Gallès de que era indispensável, para o bom resultado das transações, o conhecimento da língua portuguesa, o que não só facilitaria os entendimentos com a alfândega brasileira, como evitaria imprudências que poderiam comprometer, ao mesmo tempo, uma operação, o capitão do navio e o sobrecarga. E como exemplo apontava a apreensão, a que assistira na Bahia, de um carregamento de seda no valor de 160 mil francos, apreensão essa causada, naturalmente, por infração de normas legais.

A imprensa francesa da época, segundo os artigos transcritos por Gallès, teria sido unânime em reconhecer que o livro por ele escrito representava um guia indispensável a todos que desejassem manter relações com o Brasil, havendo quem admitisse que, com tal obra, tinha seu autor prestado um serviço público, digno do reconhecimento de seus concidadãos. E é possível que o Ministro do Comércio da França haja cumprido a promessa, feita em carta dirigida ao nosso viajante, de adquirir seu livro "para todas as comarcas de comércio do reino".

Não podemos deixar de reconhecer, porém, no exame sereno da obra, que tais elogios hão de parecer hoje fora de medida. Mas demonstram eles, sem dúvida, o quanto havia de inseguro, de ignorância em relação ao intercâmbio comercial entre a França e o Brasil, intercâmbio que o livro de Gallès deve, seguramente, ter facilitado e mesmo incentivado. E na dedicatória com que o ofereceu a Balguerie Junior, membro de importante família de armadores de Bordéus, ele próprio dizia que alimentava a esperança de que a propaganda dos frutos de suas pesquisas no mundo comercial pudesse suscitar novo impulso à indústria francesa, indicando às suas manufaturas fontes de consumo que elas talvez desconhecessem, ou "sobre as quais não tinham até a vespera senão ideias vagas e incertas". E a verdade é que os viajantes franceses, que aqui estiveram antes de Gallès, após a assinatura da paz na Europa com a derrota de Napoleão, nada escreveram que pudesse realmente orientar seus concidadãos sobre o comércio com o nosso país, quase monopólio dos negociantes britânicos.

Embora o livro de que até agora nos ocupamos seja, em nosso entender, bastante para assegurar a seu autor posição de relevo na história das relações comerciais entre a França e o Brasil, impõe-se levar a crédito de Gallès, ainda, a atividade que mais

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