de corpo e alma à empresa devassadora e conquistadora, tema predileto do Prof. Marcondes de Sousa, profusamente citado neste trabalho pelo Sr. Pereira dos Reis. O gigantesco esforço, desproporcional aos meios do luso, não obedecia unicamente à cruzada marítima contra hereges e infiéis, como proclamava a fórmula do Vaticano destinada, em tese, a orientá-lo. Visava, também, a compensar a falha da sua economia em riquezas naturais — por sua vez produtoras de artificiais — a poder de recursos obtidos entre os antípodas, finalidade em que temos perfeitamente definido o sistema colonialista.
Nessas condições, necessitava o tráfico com o Extremo Oriente de monopólio exclusivista, na época designado por Estanco da Pimenta, a abranger igualmente outros gêneros exóticos, que passaram a ser armazenados de 1500 em diante, em Lisboa. O negócio se afigurava fabuloso, procuradíssima a especiaria pelos europeus para a conservação dos alimentos antes da invenção do frio artificial. Na conjuntura, a perspectiva de enormes lucros justificava extensos sacrifícios. Um dos maiores era representado pelos efetivos necessários à trabalhosa navegação em mares longínquos e na elevação de baluarte e praças fortificadas nos pontos chave do comércio indiano a fim de assegurar o monopólio.
No afã em estabelecer rotas marítimas com os empórios da especiaria, sem incidir nos pontos ocupados pelos maometanos, foi descoberto o Brasil. Teria sido obra do acaso, como ensina, quer e não admite discrepância o Prof. Marcondes de Sousa. No dizer do mesmo, não houve no acontecimento planos preconcebidos. Pura casualidade. Jogo caprichoso do Destino que ao Venturoso galardoou com imenso território, em pouco providência da monarquia arruinada pela ilusão da Índia — os "fumos" de que falam os antigos cronistas — responsáveis pela sua falência no mercado mundial e dizimação do