povo, caído por fim em situação modorrenta que não lhes permitia reter conquistas ao chegar o século XVII.

A tragédia provocada pela sobre-humana proeza de trazer mercadorias das Molucas à Casa da Índia fundada por D. Manuel I, assim como a luta sem tréguas no Oriente contra nativos e concorrentes europeus, reduziram o reino a condição miserável, sem forças, completamente esgotado pelos desatinos do último Avis. Faltavam a Portugal indústria e comércio suficientes para conservar nas suas fronteiras os proventos do tráfico, por esse motivo tão debilitado e empobrecido que não pôde resistir à involuntária união com o castelhano, derradeiro degrau da sua ruína.

Dito isto, vamos examinar a diferença entre colonização e colonialismo. Pelo acima exposto, depara-se-nos clara e insofismável a antítese entre o monopólio da especiaria organizado pelo português no Oriente e o termo colono dos antigos romanos. Aplicava-se esta designação no tempo dos Césares aos soldados das legiões que recebiam glebas outrora percorridas por cabildas semisselvagens de gauleses, celtas ou gaditanos, para cultivá-las e mantê-las sob a dominação das águias romanas com uma das mãos no gládio e a outra na rabiça do arado. Semelhante quadro é por completo diverso da traficância leonina com povos de velhas civilizações, anteriores à lusitana, em terras onde o português não pretendia criar riquezas, mas apenas explorar as já existentes. Nestas condições aparece o estanco luso como gênese do moderno colonialismo. Deu normas e exemplo às nações que a partir do século XVII se enriqueceram pelo comércio e indústria e se constituíram potências marítimas. Mas, o conjunto que formou de ideias e tendências, adeusadas pela fatalidade, encontra-se, entretanto, até hoje mal estudado, a despeito da sua enorme importância nos destinos do mundo.