Outro Brasil

curral, tínhamos, entretanto, de acompanhá-lo através uma geografia alentada, que não se sabe como lhe chegara à mão, e que ele conhecia de cor e salteado. Nela, víamos expressões da produção de diversos países, pois trazia os principais produtores de milho, de arroz, de batata, de tabaco, de minério, de carvão, de ouro, de chumbo, de zinco, de ferro e de aço. O Brasil não figurava. Apesar disso, quando chegávamos até ao senhor Joaquim Pacheco, lá nos vinha o Seu Tí, com o Por que me ufano de meu país, do conde de Afonso Celso, dizendo isso e aquilo do Brasil. Ora, além do depoimento escrito da geografia possuída pelo Joaquim Campos - com mapas coloridos e gráficos bonitos - conhecíamos pessoalmente a natureza pátria, cheia de carrapatinhos, de marimbondos e de tocos, e não atinávamos com as tais benesses: papai era agricultor caprichoso, qualitativo; entretanto, penava-se o ano todo, para, ao fim, chegar o senhor Pedro Cabeça e pagar uma tutameia pelo resultado, que não dava a saldar os compromissos assumidos durante a fase da produção. Minha geração estaria sendo ilaqueada pela dos professores e autores? Que negócio era aquele?

Isso nos envenenava o espírito; criava certa idiossincrasia contra o campo. Alguma cousa havia de estar errada. Sentíamos o peso da ilusão; e, quanto a ilusões, o pior é não haver necrópole a inumá-las: decompõem-se dentro de nós, empestam-nos a alma, destruindo ambiente propicio à honestidade do anelo de bem considerar. As cultivadas na mentalidade brasileira pelo ufanismo são pecados mortíferos, arrasadores do estado de graça permitidor de estudo sereno - a começar no diagnóstico do grande enfermo e a terminar em boa aplicação das receitas. Devido a elas, conservamos a tradição de examinar o remédio, em vez de o doente; analisamos a

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