Outro Brasil

julgavam os habitantes estúpidos e são inteligentes, suscetíveis de tudo aprender".

No dealbar do quinto século de alaúdes e ditirambos - jamais desacompanhados de jeremiadas contra a realidade conseguida - surge o conde, com o livro deplorável, não obstante destinado a tornar a geração dos filhos maior que a dele e as precedentes. O livro gerou tragédias em nossa infância: penar a vida rural, lutar contra a proliferação tropical de pragas, ir ao senhor Joaquim Pacheco, incender-nos com Seu Tí à leitura mirabolante do Por que me ufano, sair correndo e ir ao Joaquim Campos, ver se o Brasil não figurava mesmo entre os principais produtores de alguma cousa. E nada. A Argentina, sim; mas, a minha pátria amada, nada. Em vez de tranquilo estudo de ecologia humana, animal e vegetal, acompanhado de boa lição sobre a adaptação geográfica, Afonso Celso tece loas à grandeza quilométrica, embaralha nação e curral, para imaginar um Brasil com densidade demográfica igual à da Bélgica. "Não há no mundo país mais belo que o Brasil", escreve o viajado autor; e acolhe o boato de haver sido aqui o paraíso terrestre. Nisso o Seu Tí acreditava piamente e costumava argumentar com umas batatas enormes, que davam lá no quintal, suficientes ao sustento de toda a família de Adão. Não acreditávamos muito, por umas cousas que sabíamos, e sofríamos. Repete - o conde - Rocha Pita, quando diz o Brasil "felicíssimo terreno, em cuja superfície tudo são frutas, em cujo centro tudo são tesouros, em cujas montanhas e costas tudo são aromas". E lá vem o Amazonas, mais a cachoeira de Paulo Afonso, mais a floresta virgem, por ele nunca visitados; e a baía do Rio de Janeiro, que, como o árabe à de Jounieh ou o italiano à de Nápoles, dizemos a mais perfeita do mundo. Desfila o diamante "Estrela do Sul", seguido das palmeiras, da

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