Outro Brasil

árvore do pão, árvore do papel, árvore do leite, árvore da seda, o arroz nativo, um solo sem vergonha, que agradece generosamente qualquer cócega, dispensando a ciência agrícola. Milhões de reses, cuja criação se confia à natureza. Tudo bondades, tudo benesses, tudo esperando da "ação de forças inflexíveis" a necessária dinamização, resultando em incontestável superioridade econômica, "material e moralmente aquilatada". E o Joaquim Campos, entusiasta e banguela, a comentar conosco a volumosa geografia, único livro encontrável em sua casa. Na do Seu Tí havia outro, além do Por que me ufano: uma antologia, de Olavo Bilac e Manoel Bonfim. Era das mais importantes bibliotecas da comarca. Se não nos enganamos, havia nela, na antologia, a história ufanista de um tal gigante Brasilião.

Fala-se em amenidade do clima, desse país tropical em quatro quintos do território, onde "cicatrizam mais depressa que nos hospitais do Velho Mundo feridas e amputações, realizando-se curas maravilhosas". Na infância, o que mais implicava era a cicatrização rápida das feridas. Voltando do Seu Tí, havíamos forçosamente de passar em frente ao Simão, cujo sogro lá estava sempre à porta, inutilizado por beiçuda chaga incurável. Bem mais tarde, a implicância era com o ameno clima: em Goiânia, na Conferência de Imigração e Colonização, eminente deputado desfazia-se em suores, ao orar provando, em matinal sessão (maio, mês de inverno), que nosso clima era uma delícia para qualquer raça. Nesse clima, ou melhor, nessa terra paradisíaca, onde ao homem a natureza "dá-lhe tudo quanto pode dar, mostrando-se-lhe sempre magnânima, meiga, maternal", o cidadão tem todos os predicados, inclusive "honradez no desempenho de funções públicas ou particulares", como se possível consignar a povo atributo de indivíduo e como se a falta de seriedade não fosse um

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