Outro Brasil

alto Clero, tomamos isso como cousa inédita e horrorosa, não nos esqueçamos de que já houve pior: príncipes católicos já prenderam e até executaram cardiais; um chefe de Estado - da França primogénita - já exilou o Papa; e um tangeu de seus domínios outro Papa. A ordem Social compara-se ao carro de bois com suas três juntas: a do coice, a da guia e a do meio. A do coice somos nós, os carrancas, os quakers, os amigos dos cem por cento, tradicionalistas, inimigos do evoluir precipitado. Devemos continuar fincando pé nas descidas, opondo resistência ao novidadismo avassalante, a evitar que, indo excessivamente rápido, o carro dê no barranco lateral e emborque. Mas, não sejamos convencidos: sozinhos, lerdões, não o levaríamos a destino. A da guia são os afoitos, os comunizantes, que gostariam de prescindir da triagem permissível através a evolução e de receber logo tudo quando ainda na fase experimental em outros lugares - simples ponto de vista, às vezes pior, às vezes melhor que o nosso; novilhos chucros, também não chegariam a destino; sem o calço da junta do coice, iriam às tropelias e poderiam escangalhar o carro no barranco da primeira curva ou arrastá-lo ao precipício. E a junta do meio, maria vai com as outras, para atrás se predomina o ritmo dos pesadões do coice; para adiante se a liderança da marcha está com os novilhos da guia: a famosa classe média, vítima de todos os movimentos, porquanto indefesa, sempre no papel de objeto de ação social, em vez de assumir o de sujeito de ação social. Enquanto os tubarões se defendem por si mesmos ou forçam os governos a defendê-los, e a classe trabalhista ou popular é defendida pelos governos - hoje invariavelmente demagogos - a classe média permanece como fornecedora do couro, de que se extrai para as outras a correia. Compra, da camorra de cima, a gravata com que a estrangulará a camorra de baixo.

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