Outro Brasil

Enquanto a junta da guia parece ter posto para o lado o candeeiro - o Poder Público - e deliberado marcar o compasso, os do coice e os do meio andam à procura do restolho, estão amolecidos e vão acompanhando sem convicção, só para não fazer força, não se darem trabalho. Grande mal, pois haveremos de ser sinceros e coerentes, ocupando cada um o lugar designado; não propriamente para assegurar a vitória de nossas ideologias, mas a evitar o êxito precoce e precipite das outras; porquanto, nesses embates históricos, nunca sai totalmente vitoriosa uma das ideologias em luta: durante a pugna - por isso mesmo há de se pugnar longamente, para haver tempo de filtragem - os contendores todos vão atirando cargas ao mar, fazendo concessões, sofrendo derrotas, de modo tal que, ao fim, a nova Ordem Social é uma síntese das ideologias que lutaram, o de mais aproveitável e menos reprovável de cada uma. No caso, sem as desumanas excrescências do capitalismo - deturpado por séculos de domínio infiscalizado; e sem as linhas caricatas do comunismo, exagerado como todo sistema novo, desejoso de impor-se.

No Brasil, entretanto, a sede de lucrar e de gozar favorece a junta da guia, tornando irresistível o poder dissolvente do capital e do Poder, havendo indícios de que vamos repetir o erro de quando se proclamou a República: antes do tempo, ou, como escreveu acidentalmente Eça, antes do almoço. Isto é, em jejum de experiência, de homens e de ambiente a praticá-la; com voracidade. Estamos todos fazendo o jogo da junta de guia, que há de travar nova batalha cada vez que obtém uma vitória, já que, para o povo, as vitórias do comunismo são de Pirro: o aumento de salários provocando maior aumento do custo de vida, que as greves e os quebra-quebras só podem elevar. Vitórias fáceis, pois eles seguem o preconício de Lenine - as alianças com

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