Outro Brasil

eleição, verificou-se que 72% do eleitorado não compareceram às urnas, para não votarem contra a consciência, para não enviarem ao Senado pessoa que não imaginavam à altura de tamanha dignidade. Agora, pergunta-se: as autoridades eleitorais vão processar os que se abstiveram, em oposição à Lei? E responde-se: não; não vão. Elas não vão arrastar à barra do tribunal a imensa maioria do eleitorado paraibano; não vão processar e deter os lideres, os expoentes máximos de todos os municípios; mesmo porque não haveria cadeia que chegasse, nem isso interessa à Ordem e à Moral. Com algumas lições assim, dadas pelo povo ao Poder, este criará vergonha.

Por outro lado, enquanto não deve sequer tentar eleger-se quem não puder gastar umas centenas de milhares de cruzeiros, estará vitorioso que estiver disposto a empatar meio milhão no negócio eleitoral - o que afasta da competição os capazes e bons, mas incapazes de obter dinheiro fácil, e pobres; transforma a democracia em plutocracia e o mandato cívico em transação, pois todo empate de capital pressupõe bons negócios, que devolvam principal e lucro. Porém, o povo, o burlado, precisa reivindicar esse básico direito democrático, que é a liberdade de voto, e ir fazendo como o paraibano, até lhe ser concedido tal direito pelos sindicatos políticos. Embora formalmente honestas, geram parlamentos detestáveis as nossas eleições, com alguns indivíduos a que seríamos incapazes de dar procuração para qualquer assunto sério.

Ainda quando, mediante razoável norma eleitoral, houvermos escolhido bons mandatários, cumpre fiscalizá-los. Nem perdemos o direito de fazê-lo, nem nos despojamos de responsabilidade quanto à sorte do país. Já se foi o tempo - se existiu - em que podíamos contentar-nos com ser bonzinhos, bem comportados, nós

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