Muxarabis & balcões e outros ensaios

se prestam a estudos de aculturação ou transculturação. E, para esses estudos, constituem contribuições preciosas aqueles ensaios que - como o recentemente publicado pelo Professor Aderbal Jurema sobre "O sobrado na paisagem recifense" - revelam aspectos esquecidos ou ignorados de valores tradicionais. Valores que, parecendo às vezes simples, são, na verdade, complexos.

O Professor Estêvão Pinto é quem mais se aproxima dos problemas que nos sugere a sobrevivência, em dois velhos sobrados de Olinda, de muxarabis: sensível ao que essas sobrevivências encerram de matéria sociológica. Por conseguinte, de problemas de formas e processos que quase sempre excedem, senão em importância, em complexidade, os problemas de conteúdo, mais acessíveis à pura explicação histórica. É que nem sempre só pela lógica histórica ou pela exata cronologia, é possível esclarecer-se uma situação ou um valor que resulte de transculturações às vezes sutis e remotas como aquele vento da Espanha, consagrado pelo ditado português: terrível vento capaz de matar um homem sem apagar uma luz de vela.

Lucidamente considera o Professor Estêvão Pinto o muxarabi, não um puro valor ou elemento arquitetônico ou técnico, que o português tenha superficialmente tomado de empréstimo ao mouro, mas elemento ou parte de um complexo de cultura não só material como moral. É como o assunto deve ser considerado. E como devem ser versados assuntos da mesma natureza, que os simplistas insistem em considerar expressões de cultura puramente material ou puramente nacional, resguardadas de influências exóticas por um imaginário cinto de castidade que tornasse os valores materiais, apenas materiais

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