em conservar-se intactos, primitivos, virgens de toda inovação (figs. 9 e 10). Veja-se aquele sobradinho da rua de São Bento, em Olinda. Manteve a sacada, mas o cachorro sobreviveu, embora franzino, mimoso, arrebitado (fig. 11). Com uns ares mais de modilhão do que mesmo de cachorro. Quase sem função. À maneira do que aconteceu com a plantibanda, as cornijas continuaram "presas à parede pela força do hábito". (50) Nota do Autor
Cachorros visivelmente primitivos são os observados em muitas velhas ruas de Olinda e do Recife. É evidente que vários desses consolos de pedra sustentaram, outrora, alguns lindos muxarabis (figs. 12 e 20).
Se os povos berbero-arábicos deixaram traços de sua influência em certos aspectos da arquitetura civil portuguesa, torna-se evidente que muitos desses aspectos passaram ao Brasil, com o sangue, as ideias e os costumes dos colonizadores. Os muxarabis são, sem dúvida, os mais expressivos vestígios dessa aculturação.
O muxarabi era um complexo cultural, a que estavam ligados costumes sociais de formação mourisca, logo absorvidos no Brasil com maior ou menor intensidade, - o hábito de a mulher não aparecer aos estranhos, de sair à rua com o rosto coberto, de viver com as pernas cruzadas no tapete, de não frequentar certos lugares tabus da casa.
Mas, isso é um assunto que ultrapassa os limites deste ensaio e já foi admiravelmente tratado por Gilberto Freyre.