Muxarabis & balcões e outros ensaios

Se a adufa resistiu ao tempo, houve, não obstante, um elemento do muxarabi que teimou em conservar-se intacto. Esse elemento foram os cães ou cachorros de pedra, tão característicos dos velhos sobrados do Recife e de Olinda. Não os encontrei na Bahia, nem no Rio de Janeiro. Talvez por causa da administração mais direta, nessas duas cidades, dos vice-reis ou dos governadores gerais, - ciosos pelo cumprimento das posturas municipais. (49) Nota do Autor A europeização do Recife e de Olinda só começou a ter lugar no tempo do barão da Boa Vista, com os estuques, com as grades de ferro, com os caixilhos envidraçados, com os chalés, com as platibandas. Com as modas francesas, com os cabriolés, com os trilhos.

Os cachorros de pedra são, repito, os elementos ao meu ver mais característicos dos muxarabis pernambucanos. Ainda hoje os antigos sobrados do Recife e Olinda estão cheios deles, - os mesmos cachorros que se podem ver nas litografias de F. H. Caris, desenhadas por L. Schlappriz. É só visitar, em Olinda, as ruas de São Bento e de São José; as ruas Treze de Maio, Bernardo Vieira de Melo, Prudente de Morais. Ou, no Recife, as ruas Direita, Augusta, do Rangel, do Bom Jesus, de Henrique Dias, de Domingos José Teotônio.

Geralmente, o beiral apoia-se na verga superior do muxarabi; às vezes, porém, o varal ampara-se nos consolos de pedra. Alguns sobrados de Olinda ainda hoje conservam não só os beirais como os consolos de pedra. Foram, aliás, os cachorros os elementos constitutivos do muxarabi que maior resistência opuseram à transformação do conjunto. Mesmo quando a fachada adota o frontão ou a platibanda, os cachorros persistem. Retiram-se as rótulas. Os balcões parece que já não se atrevem a avançar de rua afora. Só os cachorros perseveram

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