I — O HOMEM
CAPÍTULO I
O ABORÍGINE
Novo Mundo — nome impropriamente dado às terras ocidentais, a que chegaram os europeus na época do expansionismo náutico, e às quais só não haviam chegado antes porque só então surgiram os fenômenos sociais, determinadores daquele expansionismo. Em As Américas antes dos europeus, que a Companhia Editora Nacional incluiu na sua Biblioteca do Espírito Moderno, deblateramos um pouco sobre as idades dos continentes e do homem, parecendo-nos haver demonstrado que o nosso não é novo. "Dizer que o nosso continente é um novo mundo, é modo essencialmente europeu de considerar as coisas. Geologicamente, já sabemos, é uma das terras mais antigas do globo. Socialmente, é formado de regiões de antiquíssimas civilizações". Assim diz Delgado de Carvalho. A ambição dos descobridores e dos colonizadores foi sempre maior do que a aptidão para o conhecimento do homem e do meio. É muito divulgado o conceito do cronista de Pedro Álvares Cabral: "Em tal maneira hee graciosa, que querendoa aproveitar, darsehaa neela tudo per bem das agoas que teem". Começou aí — nesse documento que é o primeiro sobre o Brasil e contém igualmente o primeiro pedido de emprego — a apologia da natureza brasileira, a qual se passou depois a fazer em oposição ao homem, até chegar-se a este clamoroso resultado: no Brasil tudo é grande, exceto o homem. Ilusões. "Iludiram-se tanto acerca das pessoas como das coisas — diz Saint-Hilaire; julgavam o país rico e é pobre; julgavam os habitantes estúpidos e são inteligentes e suscetíveis de tudo aprender". Martius afirma que, à época do descobrimento, o aborígine brasileiro não era selvagem: asselvajado, destroço de civilização anterior. De resto, Saint-Hilaire afirma, ainda, que o português veio aprender com o índio a agricultura — provando assim, ao mesmo tempo, o atraso do colonizador e o relativo adiantamento do aborígine. "O imigrado aprendeu a botânica e a agricultura desta