História geral da agricultura brasileira v.1

impedindo veleidades culturais. Conforme se deduz de todos os documentos, a partir da crônica de Caminha, uma só coisa se queria aqui: ouro. E havia muito ouro. Faltou, porém, coragem para procurá-lo. Daí, o fato de se dedicarem à agricultura os colonos, que só começaram a corrida do ouro quando faltou o metal japonês. De resto, as entradas, de que resultou a pista das minas, tinham causa diferente: a escravização do índio, para as lides agrícolas do litoral, pois o português não trabalhava. Alguns poetas defendem a qualidade desse colono para cá exportado. Todavia, um historiador lusitano, Latino Coelho, escreveu isto: "Legislamos como se foram os portugueses de além-mar os párias da metrópole". A metrópole, que assim agia, que nos enviava seus párias, conhecia bem a extração dos filhos até cá enviados. É ainda de Latino Coelho o que se segue: "Defendemos-lhe (ao Brasil) a comunicação e o trato de gentes peregrinas. Reduzimos a estanco e monopólio grande parte de suas mais valiosas produções. Proibimos-lhe que erigisse um tear, uma forja, uma oficina. Declaramos por atentado que um só prelo difundisse timidamente a sua luz naquelas regiões escurecidas — ele, Latino Coelho, o espírito fúlgido, uma das culminâncias das letras portuguesas, a dizer isso... — Condenamos, por subversivas, as sociedades literárias. Receamos que a mínima ilustração do pensamento nos roubasse a colônia emancipada". Outro escreveu: "Das regiões mais distantes apenas conhecíamos as riquezas que serviam de estímulo à cobiça dos novos argonautas; nada sabíamos, que pudesse interessar às ciências e às artes, até que outros povos participassem igualmente de seus despojos: foi então que pudemos conhecer as produções da natureza naqueles variados climas". No Discurso Republicano de Guerra Junqueiro, se lê que os portugueses eram impelidos pela "cupidez, ganância, fome de oiro, sede de conquista". Nem isso, todavia, seria possível atender pelos modos usados, pois as instruções, que traziam, eram as mais infelizes. Se, como afirma Rocha Pombo, "só vinha para a América o homem tangido de esperanças e preocupações de fortuna rápida e fácil", sem nenhum sentimento superior mesmo o da liberdade, os processos utilizados eram contraproducentes, pois começavam por afugentar o índio, elemento sem o qual nenhum êxito se poderia esperar, quer na agricultura, quer nos roteiros das minas. Às chegadas de novos colonos portugueses, correspondiam sempre novas entradas de aborígines, mais confiantes nas feras dos âmagos florestais do que nos sentimentos cristãos dos europeus.

Na Introdução desta obra, considerou-se digno de marca o fato de haver o Brasil surgido para a civilização mais ou menos com Inácio de Loiola e a Companhia de Jesus. Aquele nascera nove anos antes e esta 34 depois. Não existira a Companhia de Jesus, e os europeus teriam extinguido o aborígine americano: ou os sobreviventes jamais conseguiriam reconciliar-se com o cristianismo, de cujo espírito os invasores lhes davam tão tristes notas.

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