sustentada à custa de empréstimos e de impostos, que depauperavam cada vez mais a população escassa. Segundo Simonsen, no reinado de D. João III a dívida portuguesa correspondia a 500 mil contos de hoje. Portugal vivia da pimenta, sem agricultura nem indústria. Segundo o historiador português Costa Lobo, as guerras, as epidemias, a miséria, a expulsão de judeus e de mouros bem como as excursões náuticas diminuíam gradativamente a população do país, que em 1495 seria apenas de 1.122.112 habitantes, "dos quais somente 331 mil homens em condição de manter a milícia, e de realizar as empresas marítimas". De resto, os portugueses nunca foram colonizadores. Como escreveu o lusitano frei Vicente do Salvador, "Sendo grandes conquistadores de terras, não se aproveitam delas, mas contentam-se de as andar arranhando ao longo do mar como caranguejos". A organização administrativa do reino não era de molde a facilitar boas gestões. O rei é a "lei animada sobre a terra", é senhor absoluto, que nenhum caso faz do Conselho de Estado, nem dos quatro titulares dos ministérios do Reino, dos Negócios Estrangeiros e Guerra, da Marinha e da Fazenda. Louco ou boçal, quem mandava era ele, e isso será tanto mais deplorável quanto mais lembrados estivermos de que Portugal jamais teve um monarca possível de classificar-se acima de medíocre, como homem de Estado. Aliás, a par da incrível centralização administrativa, o que muito influiu na infelicidade com que os homens da metrópole geriam as coisas da colônia foi a falta absoluta de estadistas, e o desastrado descritério na escolha dos elementos a enviar-nos, chegando a mandar para cá governadores inutilizados na Índia por suas patifarias e que melhor fora mandar para a cadeia. O seguinte trecho das Memórias Históricas e Políticas da Província da Bahia, de Acioli, contém exemplo expressivo: "Contudo foi quase sempre prática dos governos desprezarem aqueles homens reconhecidamente hábeis e interessantes, e Diogo Álvares Correia fornece desta verdade mais uma prova, porquanto competindo-lhe, até como ato de justiça, a administração da nova colônia, viu surgir na barra da Bahia a expedição de sete navios, comandada por Francisco Pereira Coutinho, vindo de Lisboa, a tomar posse da província como seu donatário. Coutinho havia militado na Índia, que não era para os portugueses a melhor escola de política e humanidade". O primeiro governador trouxera, como se viu, 400 degredados, e só cuidou de fortificar-se, medroso da fúria dos índios, que sempre haviam acolhido hospitaleiramente o invasor e foram quase sempre maltratados, a ponto de envolver no seu ódio todo e qualquer português. O segundo só fez uma coisa: varreu do Recôncavo todos os índios, aos quais deu caça sem tréguas. Desse ao 29º, Marquês de Minas, é ininterrupto o deserto de homens. Do Marquês de Minas, poderemos saltar ao 42º, Conde dos Arcos, sem topar com o menor sintoma de estadista, de administrador. O que vamos encontrando são golpes sobre golpes, vibrados pelos "Estadistas" metropolitanos contra a colônia, ora proibindo certas atividades econômicas, ora