História geral da agricultura brasileira v.1

fato complexo, "compondo-se de dois elementos, como seu nome indica: a terra e o homem". Ao contrário do que se poderia imaginar, "a mais nobre das profissões" não é atividade a ser exercida pelos menos aptos da comunidade humana; pois não é braçal apenas. Wolff enumera as principais qualidades do cultivador: inteligência lúcida, olho vigilante, espírito esclarecido pela ciência, senso trabalhado pela experiência e pela observação. Daí, o erro no esperar pujança agrícola sem, antes, cuidar-se do homem, o homo mensura, medida de todas as coisas, elemento principal da vida agrícola. Se o homem é ainda um selvagem, que sobre os irracionais tem apenas a inteligência, a agricultura é essa coisa rudimentar, que consiste na apropriação dos frutos da natureza e, como grau máximo, a semeadura de alguns grãos a isso reservados. Se o homem já progrediu um pouco, se já soube prevalecer-se daquela referida superioridade sobre os irracionais, e os domesticou, para mais facilmente dominá-los, para tirar proveito deles, a agricultura sobe um degrau, e ganha mais utilidade, porquanto se torna de mister cuidar das pastagens naturais. Se o homem já evoluiu até compreender que de melhor semente se obtém melhor e maior colheita e, pois, vale a pena selecionar, a agricultura aproxima-se da ciência e ganha aspecto novo. Se o homem apreende a necessidade de praticar a "doutrina da restituição" e adota a química agrícola; e se se arma dos meios de defesa contra os inimigos de suas lavouras, aí a agricultura atinge o apogeu e dá à vida social os característicos da civilização evoluída ao mais alto grau. No primeiro estádio, a agricultura não é ainda "verdadeiramente produtora", porquanto produz pouco, à custa de muita devastação. O homem é pouco mais do que um irracional, enquanto só é capaz de gestos de força. A agricultura só merece realmente o nome quando o homem se caracteriza pelos atos de direção inteligente.

A terra não é apenas o suporte da planta, porquanto é armazém de provisionamento, acumulador de energia solar, e algo mais. Porém, o seu papel, desempenhado sozinho, sem a atuação do elemento principal, do homem, não é muito maior do que o de suporte. Para a produtividade da terra, pouco vale a riqueza, sem a fertilidade, resultante esta da boa habitabilidade, das boas condições higiênicas para os micróbios úteis e para as plantas que se vão cultivar, bem como da presença e da atividade dos organismos úteis. A confusão, neste ponto, pode levar a decepções, a injustiças contra o homem, do qual se quereria exigir resultados só possíveis de obter-se em terras férteis, quando ele dispõe apenas de terras ricas, isto é, onde contra a produtividade agem micróbios daninhos e plantas adventícias, abundantes em terras excessivamente ricas, como, por exemplo, no Brasil, cujo solo, em alguns pontos, é de riqueza alarmante, arrasadora, e onde à fertilidade se opõem os exércitos de parasitas e os jatos de vegetação maninha, consequentes a essa mesma riqueza. Dumont faz bem a distinção: terra rica é

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