História geral da agricultura brasileira v.1

a terra abundantemente alimentada; terra fértil é a que tem bom estômago. O segundo elemento da agricultura, portanto, a terra, só vale mediante a atuação do primeiro, do homem. Assim, jamais poderia ser fator dominante. Mais além, veremos a defesa do brasileiro, não contra a terra, mas contra o ufanismo sem análise. Para o momento, frisemos o aparente círculo vicioso: o estádio de civilização e de progresso de um povo depende dos recursos necessários a promovê-los; esses recursos, é a agricultura que originariamente os fornece; e a agricultura só é realmente compensadora quando o homem atingiu grau de evolução mais ou menos notável, isto é, quando se civilizou e progrediu. De que dependem, pois, a civilização e o progresso de um povo agrícola? Responda-se, sem estadismo, aliás: de seus homens públicos. Os países ricos, isto é, aqueles enriquecidos pela espoliação das Américas e de outras regiões do globo, bem como pelas benesses do próprio subsolo; aqueles, detentores de grandes jazimentos de combustível; ou aqueles que, prevalecendo-se das oportunidades, se locupletaram à custa de outros, podem prescindir de estadistas e até suportar sem maiores consequências os erros de seus políticos, mesmo porque são beneficiários da mercância dos produtos da grande indústria (repita-se aqui Gina Lombroso: "geralmente se acredita que a grande indústria cria a riqueza, pois são ricos os países industriais; o erro provém de que a grande indústria — com as enormes instalações do maquinismo moderno — só pode prosperar em países já ricos, possuidores de capitais, de bancos e das organizações necessárias, e que podem sustentar operariado, dispor de boas vias de comunicação e contar com clientela local suficiente"). Mas, não o podem, não podem prescindir de robustas mentalidades à frente da coisa pública os países em fase de criação de riqueza ou, digamos, os países na fase agrícola, visto como não há mais a descobrir-se nenhuma América, com seus eldorados, com suas minas de ouro e de prata, com suas pedrarias, com seus milhões de aborígines a escravizar-se, com suas florestas de essências a destruir-se, a transformar-se em formidáveis patrimônios, como os que daqui levaram as nações enriquecidas à nossa custa, à custa de nossa espoliação, e hoje com arrogâncias de superioridade meritória. Qualquer que seja a terra, à sua disposição, o homem há de atuar nela de modo a reunir condições ideais de habitat para as espécies a cultivar-se; alimentar o solo com os elementos indispensáveis à vida microbiana; enfim, assegurar-lhe condições de aeração, umidade e agregação, para se regularem as funções físico-químicas. Junte-se a isso a parte referente à seleção das sementes, considerando que "la création de nouvelles variétés, selection qui seule mérite ce nom, se sont là des opérations extrêmement delicates, qui éxigent non seulement des connaissances scientifiques très étendues et très spéciales, mais des capitaux, du temps, beaucoup de temps", e diga-se se é possível agricultura com as atividades rurais entregues simplesmente ao povo ignaro, sem constante assistência oficial, sem saudável

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